´´tô bem, e você?``



Eae pessoal, resolvemos começar o mês de junho com um textinho breve, pra trazer a tona o que todes sabemos mas ninguém quer dizer em voz alta; Algumas questões filosóficas carregamos da infância pra vida toda, questões simples do dia a dia, coisas que as crianças contam e rimos pois parecem bobas, mas que no fundo sabemos que fazem sentido!
Mais um textinho da nossa bolsista Thavilla C. Oliveira Lopes, pra vocês.


´´tô bem, e você?``

Minha mãe sempre me diz, que tenho essa mania feia de não responder da forma correta quando alguém na rua me pergunta se estou bem, isso porque eu nunca vi sentido em um ´´tá tudo bem? `` apressado, de duas pessoas que nunca conversaram, mas se viram algumas vezes em situações aleatórias, um encontro casual e rápido demais de dois corpos, um ´´tá tudo bem`` soprado ao vento, avexado, enquanto ambas as pessoas caminham em direções diferentes com objetivos obviamente diferentes. Algumas vezes já tentei responder ´´tudo bom, e com você? ``, a resposta da pessoa vinha um pouco mais alto, geralmente ela já estava meio distante, se ela para para responder eu não consigo chegar ao meu destino na hora, isso porque a pessoa quer chegar em casa e falar ´´hey, vi fulana na rua, ela disse que está todo mundo bem por lá. `` e eu só não queria me atrasar para o que quer que eu precisasse fazer.
Quando ainda era bem pequena meus pais me explicaram que isso é uma coisa bem nossa, é mais comum do lado de cá do pais que as pessoas que se conhecem ou conheçam sua família, esbarrem com você na rua e queiram saber como estão as coisas. Tentei durante um tempo responder mais atenciosamente, o ´´tudo bem, e com você? `` parecia muito genérico, como se todo mundo falasse isso, então uma vez, quando estava na padaria, uma conhecida da minha mãe perguntou como eu estava e eu respondi; ´´mentalmente bem, fisicamente cansada, emocionalmente...não sei, e você? ``
Lembro até hoje da expressão dela, todas as amigas da minha mãe já me acham meio doidinha e depois daquilo? A moça riu sem jeito e respondeu um ´´tudo certo também, e sua mãe? ``... eu não soube o que responder, daria a resposta genérica? A conversa já parecia decorada então respondi tudo o que me foi ensinado...sim, porque mesmo que ninguém tenha sentado comigo, me feito decorar uma seleção de possíveis respostas para cada frase de um conhecido que encontrasse na rua, a gente meio que aprende vendo e ouvindo a mãe, naquelas conversas eternas de calçada no caminho do verdurão.
Percebi então que meu problema não estava associado a pergunta do conhecido quase estranho, meu problema era na resposta que eu daria. Um ´´tudo bem`` parece muito genérico, programado... isso porque é fácil compreender que sou só uma, mas nunca foi fácil juntar todas as partes de mim, eu sempre achei que tinha como estar bem psicologicamente, simultaneamente não tão bem emocionalmente, e perfeitamente bem fisicamente... sempre enxerguei esse pacote completo que faz de nós seres humanos, com algo dividido em várias partes, várias partes de um só, como se essas partes não tivessem ligação, até passar a entender que essa ideia de separação é só uma ideia, e que todas as partes de nós, individualmente afetam o todo. Uma dor de cabeça pode não ser só uma dor de cabeça, o estresse ou preocupação afetam o corpo e não só ´´o psicológico`` somos compostos por um conjunto de órgãos, por uma dimensão gigantesca de sentimentos, somos mais do que matéria e espírito, somos sentimentos, afetos, dores, processos, somos acontecimentos e fé, somos nossa ancestralidade, com o sangue que corre em nossas veias e nossa bagagem, e somos nós, um ser único e composto por mais do que ideias, e mais do que conceitos, compostos por mais do que matéria e espírito.
É bem difícil dizer como nos sentimos quando as coisas não SÃO somente assim, quando não se É simplesmente. É fácil percebermos a complexidade do nosso SER, quando voltamos nossos olhares para nós mesmos, quando percebemos nós mesmos a partir do olhar de outres, seja no ´´oi, tudo bem?``. ``

Comentários

Postagens mais visitadas