"TENHA CALMA"
´´Tenha calma``
De todas as frases que me deixam irritada sobre o que fazer quando se está agitada, essa sempre foi a que eu mais odiei, e sempre foi assim.
Como uma criança nem muito agitada e nem muito quieta, extremamente tagarela e empolgada com as coisas da vida, que repetia o que ouvia, que queria ouvir o que havia falado, extremamente impulsiva e introvertida, eu ouvia ´´tenha calma`` com muita frequência.
Eu ouvia ´´tenha calma`` quando queria afobada contar algo que tinha acabado de descobrir, e ouvia ´´tenha calma`` sempre que me frustrava e brigava, seja lá qual fosse o motivo, e eu ficava ainda mais agitada ao ouvir ´´tenha calma``. Seria tão mais fácil se alguém tivesse a bondade de me ajudar a manter a calma, ou recuperá-la, invés de simplesmente despejar a ordem sobre mim.
De todas as vezes que fui parar em hospitais, eu ouvia a enfermeira falar como eu deveria ficar paradinha para que ela inserisse a agulha do soro ou a injeção, e falava das consequências assustadoras caso eu me mexesse, e quando me seguravam e me espetavam me diziam; ´´tenha calma``, mas nunca me falaram como ter calma.
Parece fácil para todos os adultos e adultas proferir sentenças sem analisar a situação, não passa pela cabeça de ninguém com mais de vinte anos que instruções são bem úteis? Adultos e adultas seguem instruções para ter uma vida funcional, e com a prática as instruções ficam dentro da cabeça deles e delas e essas pessoas conseguem realizar as suas tarefas, mas as crianças tem que ouvir ´´tenha calma`` e saber o que isso significa? Ninguém nasce com um manual de meditação no subconsciente (acho que nem existe de fato um manual assim que seja 100% eficaz sem a prática). Adultos e adultas, crianças precisam de instruções!!!
Depois dos meus treze anos, quando comecei a conviver com minha irmã mais nova e ser responsável por ela na ausência dos meus pais, me deparei com uma situação assustadora. Quando ela tinha um ano e pouco, caiu em casa, enquanto tentava caminhar com os pés e não com os joelhos, eu obviamente fiquei mais assustada que ela, ela havia caído, só isso, eu havia ´´deixado`` ela cair, e depois, com minha afobação, fiz ela achar que a queda era o fim do mundo, e eu quase disse ´´tenha calma`` mas respirei fundo e disse; ´´vamos todas manter a calma``, respirei fundo e mostrei a ela como fazer, e ela fez, ofereci uma água, bebi a água e dei água a ela, respiramos fundo mais algumas vezes, sentamos no chão e eu falei porque tinha me assustado e o quão feliz eu estava por ela estar bem, ela pareceu não se importar e levantou novamente, um pé na frente do outro. Percebi que eu tinha ensinado ela a manter a calma, no mínimo eu havia lhe ajudado a manter a calma, e isso era mais bonito e satisfatório do que ordenar que ela tivesse algo, ou adquirisse algo que só se conquista com certa prática.
Se vocês estão se perguntando se sou uma pessoa que consegue me acalmar fácil, eu não sou, e quanto mais me pedem para ter calma ou me acalmar, mais nervosa eu fico, eu perco a calma muito fácil, na verdade, acho que ela foge de mim com muita frequência, muita frequência mesmo, mas eu me esforço para encontrá-la e uma lição que tirei da minha versão criança, é que a calma não é algo que se exige, ou ela vai sumindo a ponto de não ser encontrada facilmente.
Texto de Thavilla Oliveira Lopes
#ParaCegoVer #ParaTodosVerem
"Imagem com fundo laranja, no canto superior direito a logo do projeto Filo Sofia, no canto superior esquerdo um círculo amarelo com a frase "Diário de Estudante de Filosofia." Na base da imagem as logomarcas da Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Federal do Cariri, do curso de filosofia da Universidade Federal do Cariri e da Pró-Reitoria de Cultura da Universidade Federal do Cariri, respectivamente da esquerda para a direita. No centro da imagem o título do texto "Tenha Calma" é a figura de uma mão segurando um lápis.
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