Diário de Estudante de Filosofia - Saber quem eu sou.

 Saber quem eu sou.

por: Thavilla Oliveira Lopes


        Quando somos bebês, e ainda não temos vocabulário e conhecemos o máximo que podemos por meio dos sentidos, as pessoas tentam nos apresentar o mundo, elas dizem; ´´Essa é a mamãe``, elas dizem ´´esse é o auau``, elas dizem... Elas falam sobre tudo e mostram tudo e esperam que a gente reproduza os sons, e as vezes escutamos e reproduzimos, quando não os sons, os sinais. As pessoas que já vivem no mundo a mais tempo nos apresentam o mundo, os elemento aos quais temos acesso na nossa casa, apresentam os cheiros e os sons, não é sempre, mas as vezes nos apresentam as texturas e querem nos apresentar a todos os gostos que eles gostam. O que os habitantes mais experientes da terra esquecem de nos apresentar, é a nós mesmos, eles acham engraçadinho um bebê que toca o espelho, percebe sua própria imagem e ri, ou chora, ou as vezes brinca de ver ´´quem imita quem``, nunca se dão o trabalho de dizer ´´esse é você, olha só o seu nariz e olha só a sua boca, olha seus olhos e seu cabelo...``, e mais, nunca se dão o trabalho de esperar que digamos quem é aquela imagem, nunca olhamos para nós. Não olhamos para nós porque não somos estimulados a fazer isso, e porque não vemos ninguém fazer isso, então é mais fácil achar que sabemos tudo sobre o nosso vizinho, por exemplo, do que saber de fato algo sobre nós mesmos, pegamos os adultos escondendo fatos sobre si mesmos, adultos costumam dizer ´´eu não faço isso`` mas sabemos que faz, sabemos porque vemos, e muitas vezes nos perguntamos, como pode ser tão difícil falar sobre quem é?

        Eu sempre achei difícil admitir minhas manias, nos últimos meses tenho feito diariamente o exercício exaustivo de investigar a mim mesma, e considerando que tenho vinte e dois anos de vida, talvez eu precise investir muito tempo em descobrir tudo que sou até agora, mas a verdade, é que analisando minha versão criança, percebo que eu nunca sabia que estava com raiva e porque estava com raiva quando estava com raiva, eu me desapontava, e o desapontamento se transformava em frustração muito rápido, e a frustração em mágoa, e a mágoa em uma necessidade absurda de resolver as coisas, e como as coisas na grande maioria das vezes não podiam ser resolvidas, ainda mais por uma criança, eu ficava com raiva, muita raiva, e eu não sabia que aquele choro era de raiva, que os soluços eram de raiva, e ninguém em volta sabia também, e quando perguntavam ´´o que aconteceu? Porque está chorando?`` Como esperavam que eu respondesse de forma sábia quando nem mesmo eles sabiam porque estavam chorando quando choravam de raiva? Percebi que essa falta de conhecimento poderia ter me evitado muitas crises de ansiedade entre o ensino médio e esse último ano de universidade, eu poderia perceber porque meu estômago doía, as mãos suavam, a respiração pesava no peito e tudo parecia mais intenso, os sons mais dolorosos de ouvir... Eu poderia perceber, e parar e respirar fundo, e quando eu percebesse, invés de sentir toda essa angústia eu poderia respirar fundo e tentar arrumar uma maneira racional de lidar com a situação, tudo isso se eu soubesse quem sou. E não se trata necessariamente de conhecer cada canto de você, isso não vai acontecer, estamos em constante mudança, transformação, evolução, estamos em diversos processos ao mesmo tempo e não é justo que não consigamos aproveitar esses processos por não saber quem somos.

        Propus então um exercício para mim mesma que acabo levando para minhas aulas; sempre que algo acontece, por mais simples que seja, como sair de um estado de tédio para euforia com uma música no rádio, me pergunto; ´´o que em mim, fez com que isso fora de mim, me afetasse dessa forma?``. Estamos o tempo todo e constantemente afetando e sendo afetados por todos esses elementos a nossa volta, não é justo então que saibamos como e porque? Começamos com ´´qual o meu nome?``, passamos para ´´o que eu gosto de fazer?``, nos atrevamos a perguntar ´´o que não gosto de fazer?``, sejamos mais ousades e levantemos a questão ´´o que eu faço que não gosto?`` e até ´´o que eu gostaria de fazer e não faço? O que me impede?``... Se vamos propor investigar o mundo, porque não começarmos por nós? Porque não começar sabendo quem eu sou?

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