Medo de Voar - Diário de Estudante de Filosofia

 


por: Thavilla Oliveira Lopes

Medo de voar
Hoje em dia, me pego várias vezes pensando qual seria a sensação de voar, me parece que é uma sensação comparada a de liberdade, de sair dos limites e de abandonar as regras, que voar é traçar seu próprio trajeto, de escolher a sua altitude e sua velocidade, de determinar o ponto de partida e o ponto de chegada, parece que voar exige sabedoria para saber a hora de parar, porque você não vai querer despencar de cansada, e voar exige saber onde pousar, você não vai querer pousar em um lugar que te machuque, saber voar também exige que você saiba que as vezes, deve seguir em frente, distinguir quais chuvas podem te fazer despencar, e quais chuvas vem para lavar você, saber voar parece ser mais do que a simples sensação do vento contra o corpo, parece técnica, sabedoria e responsabilidade, e eu sempre tive um medo danado de voar. 
Sempre que eu me peguei a pelo menos alguns centímetros longe do chão, eu voltava e cedia as leis da gravidade, era o certo a se fazer, permanecia nas regras, nas pistas, nas normas, não ganharia pontos da escola se eu saísse por aí flutuando, viajando em teorias malucas, levaria bronca em casa se desobedecesse alguma regra ou ordem porque resolvi analisa-la e concluí que uma outra alternativa poderia ser melhor, eu tinha medo de voar, tinha medo de voar porque sabia que quando fechava os olhos, e deixava a minha cabeça dominar todo o resto, eu não voltaria para o chão nem tão cedo, eu sonhava acordada, com os cheiros, cores e formas, eu brincava de advinha com as sombras, eu lia um parágrafo e inventava uma nova história antes de terminar aquela, eu desenhava coisas inexistentes, eu escrevia coisas que nunca haviam acontecido, eu flutuava, e me sentia livre, e depois percebia que não poderia estar flutuando, pois quando ninguém me acordava, me sacudindo pelos ombros e me lembrando das tarefas do mundo real, eu mesma fazia isso. 
Havia, em toda a ordem, momentos de caos, e o caos era bom, no caos ninguém percebia que eu havia sumido, que eu estava nas alturas, que eu estava fora de alcance, e eu tinha uma chave perfeita para usar nesses momentos de caos, na verdade, um lápis e um papel, lembro da primeira vez que flutuei sentada em uma cadeira, lembro que no momento em que decidi começar a escrever aquela história, os ruídos em volta haviam quase que desaparecido, o mundo parecia vermelho e laranja, o tempo parecia relativo, eu estava voando sentada, mas sabia que voar não resolveria nada para mim, não faria com que eu tivesse as melhores notas, não me ajudaria a ser boa nas matérias em que eu era péssima, não me livraria das pessoas no intervalo jogando terra em meus cabelos e correndo com meus tênis pra pendurar em uma árvore, mas flutuar me dava um mundo novo onde eu poderia viver, acontece que eu tinha muito medo de voar, tinha medo de voar e ficar fora do chão por tanto tempo que confundiria o que é real com o que foi criado, me diziam com uma certa frequência que eu deveria ter cuidado com minhas viagens ao ´´mundo da lua``, eu não queria ficar presa em um lugar que não era real, então eu morria de medo de voar. 
O tempo passou e minhas viagens moderadas não. Eu não conseguia parar de viajar, eu gostava muito de ler livros, mais do que de fazer qualquer outra coisa, e sempre que eu começava uma leitura, eu voava para um lugar diferente, e sempre que voava para um lugar diferente, então desejava voar para um lugar inventado por mim, então me continha e pouco depois vinha outra leitura, outro voo solo e livre, outra necessidade de criar um novo caminho, outro pouso forçado na terra. Era frustrante. 
Percebi que nunca pararia de voar, nem que eu tentasse, mesmo que eu quisesse, está em mim, não tenho só a necessidade de ser essa pássaro livre, tenho as asas, elas foram dadas a mim, seria um desperdício não usá-las, eu deveria usar. Então fui crescendo e cada vez que a vontade de voar vinha, eu analisava se era a hora certa, eu respirava fundo, abria as asas e alçava voo, uma, duas, três vezes, planava no ar, o barulho em volta se afastava, ninguém podia me tocar, mas eu poderia tocar o mundo, é a melhor sensação do mundo, traçar seu próprio caminho, explorar os que estão colocados, saber quando parar para descansar, um voo solitário e emocionante, imprevisível, possível, um voo sobre o mundo real, sem separar os dois, um voo que pensa o futuro, que reflete o passado, que narra o presente e que a cada respiração, cada bater de asas se torna mais verdadeiro em si, partindo da vontade de degustar o mundo, eu perdi o medo de voar.



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Imagem com pastel, decorada com a sombra de um pássaro e um papel amassado. A logo do Projeto FILO SOFIA se encontra na parte inferior da imagem, enquanto as logos da Filosofia UFCA, PROEX e PROCULT se encontram na parte superior da imagem. A imagem contém, sobre o papel amassado, os dizeres: "Diário de estudante de Filosofia", "Eu perdi o medo de voar", "ver legenda".


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